Resumo: Os cismas metodológicos da Ciência Política contemporânea podem ser rastreados à publicação da obra Desining Social Inquiry: scientific inference in qualitative research , de Gary King, Robert Keohane e Sidney Verba em 1994, responsável por inflamar os debates entre quantitativistas e qualitativistas. A essa publicação seguiram-se não só dossiês temáticos de artigos e livros respondendo aos referidos autores, como também movimentos institucionais da academia de Ciência Política americana centrados no questionamento das predileções científicas da mesma. Destacam-se, dentre tais processos institucionais, o Movimento Perestroika e a iniciativa Data Access and Research Transparency. Esses diversos acontecimentos denotam a persistência de divisões que parecem reconciliáveis na superfície, mas que na verdade demonstram o convívio tenso entre distintas visões do que é a ciência dos fenômenos políticos. Em vez de uma paz perpétua entre cientistas políticos, a história recente dos debates metodológicos assenta-se em tréguas momentâneas, rompidas de tempos em tempos por iniciativas que refletem preferências dogmáticas por temas, teorias e métodos.
Nos últimos anos, novas elaborações teóricas, técnicas e ferramentas de pesquisa inovadoras surgem como alternativas aos processos de produção e análise de dados, comportando, em algum grau, os clamores dos pesquisadores qualitativistas e quantitativistas. Isto se deve, primariamente, ao fato de que há uma diversidade de perguntas em Ciência Política, implicando em distintas formas de respondê-las. Assim, os desenhos de pesquisa disponíveis aos pesquisadores também são diversos, refletindo a necessidade não só de responder a esta multiplicidades de questões de interesse à disciplina, como também de abarcar a pluralidade de visões, abordagens e metodologias.
O objetivo desta mesa é discutir os desafios metodológicos da Ciência Política Contemporânea, e os avanços técnicos e instrumentais mais recentes, que tem contribuído para o desenvolvimento de novos desenhos de pesquisa e o acúmulo de conhecimento. Nesse sentido, as pesquisas dos fenômenos digitais têm sido desafiadoras para os pesquisadores que se dedicam ao estudo da política. Discutiremos, especialmente, as práticas que visam aumentar a transparência dos procedimentos de coleta e análise de dados, bem como os limites da reprodutibilidade de pesquisas sobre fenômenos efêmeros, tanto por ser digital (e não ter materialidade), quanto pela impermanência própria das posições e argumentos políticos.
Como exemplo de ferramentas ainda não amplamente utilizadas pela Ciência Política, discutiremos as questões envolvendo a utilização de uma ferramenta originalmente utilizada pelas Ciências médicas e da saúde, a partir do desenvolvimento de uma monografia que realizou Revisão Sistemática de artigos que relacionavam fake news e eleições, para argumentar como a ampliação do uso de Revisões Sistemáticas pode colaborar com o desenvolvimento de pesquisas na Ciência Política, pois são capazes de encontrar tendências emergentes, lacunas e padrões. Será discutido, além das críticas necessárias, como a Revisão Sistemática enquanto ferramenta metodológica pode atribuir transparência e reprodutibilidade a uma revisão de literatura, se destacando como uma ferramenta distinta das tradicionais revisões narrativas.
metodologia; Ciência Política