Resumo: Integrando pesquisas em andamento, as diferentes apresentações irão convergir para o enfoque de tensões entre as noções de norma e de desvio, presentes em textos literários e em suas recepções. Tendo, como ponto de partida, a ideia de que o campo do desvio é socialmente recortado, e que a norma sempre se aproxima de uma “ficção ideal”, conforme postulou Freud, as diversas falas – centradas em olhares, reflexões, comportamentos e estruturas – comentarão sobretudo os efeitos construídos por essas vias rotuladas como desviantes. Debruçada sobre uma crônica escrita por Machado de Assis em abril de 1888, Naiara Pita aponta tensões causadas pela reflexão do autor, cujo prognóstico para o futuro dos escravizados desvia-se dos caminhos percorridos pelas correntes de pensamento da época. Analisando a composição de Macabéa, protagonista de “A hora da estrela”, Joanne Nascimento enfatiza o desvio tomado por Lispector em relação às tradicionais representações do migrante nordestino, ressaltando também a torção realizada por seu próprio trabalho, em relação à fortuna crítica da autora. Felipe Leite comenta a dramaturgia de Hilda Hilst, como uma produção que, ao se afastar do teatro produzido no Brasil, durante a ditadura militar, afastou-se também do paradigma proposto por Hegel para o drama. Por último, em sua leitura de um poema escrito por Eugênio de Andrade, João Pimentel contempla a tensão entre a ética do desejo e a pressão social exercida a favor de outra ética que lhe é estranha.
literaturas em língua portuguesa; desvio e norma