Resumo: Este trabalho pretende compartilhar a experiência de um semestre em que a professora Ana Paula Penna e duas tirocinistas, cada uma de um cantinho do Brasil, e com trajetórias e interesses artísticos diversos, conduziram juntas o componente curricular: JOGOS E IMPROVISAÇÃO TEATRAL, obrigatório para estudantes de teatro da UFBA e eletivo para os outros cursos. Ana Clara Veras, atriz, escritora feminista cearense compartilhou o coco com a turma, trabalhando a partir de suas referências, criando um espaço leve, lúdico, em que o corpo disponível nascia dos risos, abraços e olhares. Alethea Novaes, atriz soteropolitana, ex- aluna da UFBA, participou com seu olhar atento para a criação das cenas, com o silêncio que precede aquela faísca que acontece no aqui-agora. Ana Paula Penna, atriz carioca, filha de baiano do sertão, estabeleceu uma escuta ao que cada uma trazia e somou às suas experiências no teatro físico e na improvisação. Essa escuta se expandiu também para a relação com as/os estudantes, que apresentavam uma diversidade estonteante de corpos, vivências e regionalidades. “Sonhos” foi o mote que guiou a construção das cenas, o que comoveu a nós e às/aos alunas/os durante todo o processo, provocando choros, visitações às memórias de infância, saudades, risos e uma vontade de estar cada vez mais juntos. Não foi fácil porque o contexto é ainda a pandemia de COVID 19, de certa forma, controlada, mas o que significa compor as primeiras aulas de teatro presenciais após dois anos de privações, perdas, dores, medos e angústias também agravados por um governo de extrema direita, que não suporta essa diversidade e alegria. “VARAL DE SONHOS”, título do espetáculo final vem sendo construído a partir de respeito mútuo às individualidades, ao mesmo tempo em que cria um espaço de afetos, confiança e sentido de coletividade. É trabalho, é arte, mas também uma resposta sobre o quanto nossas sementes podem até ficar adormecidas, mas ao primeiro chuvisco e raio de luz, são capazes de originar um jardim diverso de cores, texturas, sonhos e amores. Alethea Novaes nos lembra que esse encontro também apresentou desafios para o planejamento e condução das aulas compartilhadas, mas a experiência resultou numa parceria muito feliz, pela complementaridade, pela generosidade nos revezamentos dessa condução, pela observação e aprendizado com trajetórias diversas que se reúnem em sala de aula. E, sobretudo, pelo nosso encontro com essa turma, extremamente disponível, muito rica em aptidões e vontade de realizar o trabalho, com união e confiança. Realmente um encontro muito especial, uma oportunidade e exemplo de parceria e compartilhamento!
A estudante Maria Clara ressalta a importância de exercitar o improviso a partir das danças populares, onde trabalhamos ao mesmo tempo voz, corpo e presença cênica. E afirma que, por meio do afeto e guiados por três mulheres alicerces, sentiram – as/os estudantes liberdade para desabrochar com suas potências, o que lhe dá a sensação de que o teatro pode atingir camadas mais profundas na experiência de cada atuante. A estudante Naidil, cantora, matriculada no BI de artes, fala sobre a importância das aulas para reaprender olhar nos olhos, nos tocarmos e nos abraçarmos. E ressalta que sonhar é matéria essencial para os artistas. Cassiel Oliveira, estudante de teatro, associou nossa parceria de trabalho ao mito grego d` “As moiras”, em que três irmãs determinavam o destino, tanto dos deuses quanto dos seres humanos. Em sua explicação, referia-se menos à questão da determinação de destinos e mais ao trabalho de tecer coletivamente, o que nos deixou agraciadas e com a sensação de que este caminho nos potencializa também.
Processo colaborativo no ensino de teatro; pedagogias do teatro; práticas da cena