Resumo: A ideia de compor esta mesa surgiu de uma conversa sobre o sarau Érotika que foi criado em 2019. O sarau reúne artistas amadores e profissionais em torno da arte erótica e acontece na cidade de Lyon, França. A ideia inicial era comemorar entre amigos o dia internacional do sexo que se comemora no dia 06 de setembro em um pequeno comitê onde se faz leitura de literatura erótica e se fazem reflexões sobre o assunto. O objetivo inicial era criar um ambiente de troca, onde cada um dos participantes se sentisse confortável para enriquecer o debate com as suas próprias questões pessoais e vivências particulares. Uma das experiências que os participantes do sarau têm em comum é a de serem imigrantes e compartilharem a necessidade de se adaptar a uma nova cultura, a um novo idioma, uma nova forma de compreender e interpretar os próprios corpos e os outros corpos com códigos até então desconhecidos ou pouco familiares. Criar relações afetivas e sexuais passa necessariamente pelo corpo que se abre a novas formas de expressão e aprendizado. Os corpos latino-americanos enfrentam essas mudanças como desafio quando imigram para Europa. O desafio do qual estamos falando tem a ver com a consciência corporal da cultura de origem, graças a qual os corpos não se deixam aprisionar em estereótipos, mas também não negam a si mesmos na sua identidade individual e coletiva. Colocamos em destaque o contraste entre a cultura brasileira predominantemente táctil, de abraço e beijo fácil, de acolhida espontânea, versátil na jinga, natural na batucada e na dança que envolve toda a corporeidade face ao puritanismo da cultura francesa. O referido projeto cresceu e o convite se estendeu aos franceses e a todos os interessados no tema da sexualidade e da arte erótica. Através de exposições, filmes, música, dança e diversos ateliers começaram a se gerar discussões e narrativas eróticas em um contexto sociocultural e político em que as visões moralistas sobre os corpos e as sexualidades ganharam força, impondo visões opressoras aos corpos tidos como subalternos (principalmente os corpos das mulheres). O termo Érotika relembra as palavras de Audre Lorde. “O erótico não é sobre o que fazemos; é sobre quão penetrante e inteiramente nos sentimos durante o fazer. E uma vez que soubermos o tamanho de nossa capacidade de sentir satisfação e realização, é que podemos observar qual dos nossos afãs vitais nos aproxima mais da plenitude.” Resgatar a compreensão do erótico dentro de um universo de predominância retrograda e machista que tende a confinar o prazer a um quarto implica em expandi-lo para mais amplos sentidos, espaços e olhares dos diferentes gêneros, corpos, cosmovisões e sexualidades envolvidos no agir político.
Corpo; Sexualidade; Imigração