Resumo: A compreensão dos fenômenos da cultura digital passa pelo reconhecimento da plataformização, da dataficação e da performatividade dos algoritmos (PDPA – LEMOS, 2020). Nesta perspectiva, a mesa proposta busca analisar, a partir de uma perspectiva neomaterialista, objetos inseridos na PDPA, a saber: fake news, plataformas e cidades inteligentes. Tais análises consideram os fundamentos da Teoria Ator-Rede e dos Modos de Existência dos Modernos, em conformidade com as proposições de Bruno Latour.
As fake news são consideradas sobre duas perspectivas. “As fake news e a produção jornalística de referências”, do pesquisador Frederico Oliveira, investiga como conteúdos inverídicos e o jornalismo se distinguem ao convocar fontes para corroborar sua argumentação. Além disso, aponta que as plataformas coproduzem as fake news, assim como permitem sua circulação e definem quais conteúdos serão checados por agências de verificação. Ademais, a pesquisa analisa conteúdos falsos por meio de ferramentas de visão computacional, a fim de identificar possibilidades e desafios da identificação automática de fake news.
Por sua vez, o pesquisador Guilherme Reis analisa 16 projetos governamentais de checagem de fatos, partindo da hipótese de que essas iniciativas se comportam de modo semelhante à produção e disseminação das fake news devido à fragilidade de suas cadeias de referências. Além disso, mostramos como o governo federal, os governos estaduais e outras instituições ligadas aos legislativos lidam com a onda de fake news sobre a pandemia. A análise mostrou que a maioria dos projetos confirmam a hipótese.
As plataformas digitais são objeto da pesquisa. Ressalta-se que as tecnologias digitais constituem e mantêm enviesamentos e preconceitos implícitos que constroem, dinamizam e aprofundam exclusões, produzido novos regimes de visibilidades e invisibilizando práticas e indivíduos considerados abjetos, o que gera violências algorítmicas contra públicos específicos. A pesquisa apresentada por Amanda Oliveira, por meio de abordagens teórico-metodológicas neomaterialistas e de estudos de gênero, parte de controvérsias envolvendo alguns exemplos de sistemas e a transgeneridade e investiga elementos que estruturam condições trans-excludentes em plataformas digitais.
O cooperativismo de plataformas é objeto da pesquisa de Walmir Estima. Entendendo o conceito de sociedade de plataformas (VAN DIJCK; POELL; WAAL, 2018) em conjunto com o de colonialismo de dados (COULDRY; MEJIAS, 2019), em uma ordem em que as atividades sociais mediadas pelas plataformas servem a uma lógica global de extração e dominação, a pesquisa analisa os processos de dataficação em movimentos de cooperativismo de plataformas, entendidos como movimentos de trabalhadores organizados que buscam se desvencilhar da dependência de big techs desenvolvendo plataformas de trabalho próprias, para entender o que é revelado sobre as questões de soberania e colonialismo de dados.
As cidades inteligentes são objeto de duas pesquisas. A dataficação da administração pública da cidade de Salvador é objeto da pesquisa de Nenhy Alves, que considera os dispositivos digitais caracterizados pela coleta, processamento e tratamento de dados como um conjunto de procedimento usados pela gestão pública para gerar tomadas de decisão para a cidade. Nesse sentido, concentra-se no data-driven urbanism (ou urbanismo guiado pelos dados) em que compreende a extração de dados dos cidadãos. A discussão perpassa pelas facetas da dataficação, pela esfera dos dados individuais e a garantia de políticas de privacidade, bem como a governança dos dados.
Por fim, a investigação do pesquisador Thalis Macedo analisa a inteligência de dados desenvolvida pelo NOA Cidadão, aplicativo da Transalvador/Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), no projeto “Salvador 360” . A partir de uma perspectiva neomaterialista (FOX; ALLDRED, 2017), realizamos: a) análise da interface; b) análise de conteúdo dos documentos oficiais e comunicações públicas; e, c) análise de reação dos usuários na plataforma Google Play Store com o auxílio da ferrenta Appbot. Concluímos apontando que o aplicativo NOA Cidadão é um dispositivo-rede que depende tanto da disposição do usuário em fornecer dados quanto de outras instituições e dos servidores da Transalvador para funcionar como um aplicativo inteligente.
Fake news;Plataformas;Cidades Inteligentes