Resumo: Ancestralidade – Minhas origens, minha formação: a cultura que atravessa o tempo e influencia os meus caminhos da dança
A palavra ancestralidade remete à qualidade de ancestral, ao legado de antepassados; atavismo, hereditariedade. Trata-se de uma definição, digamos, “genérica”, encontrada facilmente na esfera web. Mas, na prática, a grande mídia e vários setores da informação, do conhecimento, da cultura e, até mesmo, de investimentos capitalistas, adotam o vocábulo como algo mais relacionado com a ancestralidade entrelaçada ao continente africano. O fato é que todos nós, seres humanos, temos ancestrais.
Somos mais de 215 milhões de brasileiros, de acordo com estimativas oficiais do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, um número que aumenta a cada 21 segundos. De acordo com o último censo realizado, em 2010, Salvador é a maior cidade com população negra, fora da África. Somados pretos e pardos, o percentual atinge 79,8% de seus habitantes. É aqui, neste lugar, que me identifico como parda, filha de um homem preto e de uma mulher branca.
Foi grata ao grandioso acervo de informações herdado dos meus ancestrais e cultivados ao longo da minha vida, que eu me propus a realizar o projeto audiovisual “Eu não ando só”. Nele, me situo como uma filha de família amante das artes e busco o elo entre meu gesto e o gesto dos meus pais, me incluindo em fotos antigas e em vídeos, por meio de efeitos especiais.
Durante a minha narrativa, ciente do meu lugar de fala, e agora eu também contadora de uma história de danças, faço em meu vídeo uma ponte entre o concurso de bolero do qual participei e minha exuberante e inspiradora tia Lucinha. Traço uma reta entre as pinturas de dançarinas do carnaval, do meu pai e o meu remelexo. Pincelo o ar, com as mãos em onda, como minha mãe se movia, ao colorir suas telas com tintas acadêmicas.
São linhas de DNA cultural que podem ir e vir, se cruzar, mesclando presente, passado, futuro, numa coreografia que atravessa o tempo e que pode assumir formas de número infinito. Assim penso. Uma contação pode puxar outra e, assim, segue por outras gerações. Meus filhos hoje “bailam” comigo, motivando e contribuindo com meus processos em dança. Somos raiz e semente.
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