Resumo: Torna-se crucial confrontar projetos civilizatórios erigidos na modernidade/colonialidade que atravessam nossas subjetividades e nossas corporalidades e que se alastram, ainda que de forma implícita, em nossas práticas educativas e de pesquisa. Esse enfrentamento confirma a necessidade de uma prática plural na educação, seja do ponto de vista denunciativo e moral, seja do ponto de vista ético e propositivo. Tratando da pluralidade de perspectivas na educação, Cabaluz-Ducasse (2016) alude às pedagogias-outras (caso das Pedagogias Críticas Latino-americanas) como as que compartilham todos os pressupostos teóricos, ético-políticos e metodológicos que permitem problematizar posições eurocêntricas, colonialistas, capitalistas, patriarcais, racistas, dentre outras. Somam-se a essas pedagogias as múltiplas experiências de organização e lutas emanadas do movimento popular latino-americano. Conforme esse autor, essas pedagogias são plurais e múltiplas em suas teorias, metodologias e práticas e em seu conjunto confluem para a constituição de um pensamento pedagógico contra-hegemônico. Apesar de suas singularidades, compartilham alguns aspectos tais como: a ênfase na natureza ética, política e ideológica da educação, a importância da práxis político-pedagógica para a transformação social, a práxis dialógica e o reconhecimento do conflito Norte-Sul e dos problemas derivados do colonialismo e do eurocentrismo presentes na educação. Portanto, são possibilidades praxiológicas acionadas como formas de resistência e de enfrentamento nas lutas antirracistas e antifascistas no campo da educação, como, por exemplo, as vias propostas pela educação antirracista, pela educação intercultural crítica, pelas pedagogias críticas e emancipatórias, pelos letramentos críticos, pelos letramentos de reexistência, pelo letramento racial crítico, pelas pedagogias decoloniais, pelas pedagogias críticas, como no caso das latino-americanas (BAPTISTA, 2022). Nesta mesa, portanto, consideramos que a luta antirracista e antifascista na educação assume diversas formas e se vale de distintas estratégias, teorias e metodologias. Sendo assim, trazemos para o debate o currículo como campo de disputas e relevante para a luta antirracista, tendo em vista as múltiplas conexões que estabelece com o mundo plural e diverso em sua dimensão estética, ética, humana, política e social. O currículo como seara discursiva de posicionamentos e arquétipos, torna-se fundamental para o processo de reprodução social das desigualdades e figura central na disseminação de narrativas homogeneizantes e racistas, com as quais historicamente foram construídas e reforçadas verdades absolutas. Assim, ao compreendermos a escola como um aparelho ideológico (ALTHUSSER, 1980), faz-se necessário compreender os vieses discursivos presentes no currículo escrito e praticado e buscarmos possibilidades outras do fazer curricular, ampliando noção de currículo como espaço de embates e espaço de direito. De igual modo, os letramentos críticos (MENEZES DE SOUZA, 2011; JANKS, 2018) acionados como ensinamentos engajados e práticas contra-hegemônicas para a promoção da luta antifascista, particularmente quanto ao combate do retorno do ultra-conservadorismo de extrema direita relido na sua vertente latino-americana e brasileira, constituem outra via relevante. Dadas as múltiplas possibilidades tal abordagem pode contribuir para a expansão de saberes e conhecimentos e para a instauração de outro ethos de subjetividade (GROVOGUI, 2011) dilatando perspectivas de mundo e de linguagens e fomentando uma educação linguística sensível, comprometida e compromissada com as vidas no e do Sul Global.
E, por fim, propomos uma discussão sobre Afrofuturismo e educação, refletindo como este movimento, que aglutina múltiplas linguagens artísticas com alcance estético-político (DIAS; RODRIGUES, 2021) , tem chegado às salas de aula por meio de práticas engajadas que se configuram como Letramentos de Reexistência (SOUZA, 2011) já que contestam e tencionam as narrativas hegemônicas sobre pessoas negras num constante exercício de apropriação e utilização dos signos linguísticos em busca de centralidade, agência e autodeterminação (NJERI, 2019).
Pedagogias decoloniais; Afrofuturismo; Currículo